
O convite para permanecer na igreja, onde chegou após andanças pelos bares da Liberdade, soou aos seus ouvidos como o som de uma trombeta ou dos instrumentos que costuma tocar. “Não vou ficar, mas sábado eu venho”, prometeu, consciente do estado momentâneo em que se encontrava, ao amigo que o invitara e aos que endossaram o chamado. Ninguém acreditou que pudesse voltar, mas ele tornou à Santa Filomena, no sábado seguinte, surpreendentemente sóbrio.
Naquele dia, Agenor não saiu do trabalho direto para o bar, como de costume; foi para casa e, à tarde, ficou descansando da rotina laboral esticada da manhã. No início da noite, numa mudez insólita, começou a se arrumar. Pronto, foi saindo de mansinho, sob o olhar hesitante da mulher. “Já vai para o bar”, repreendeu-o, precipitadamente. Avançou à calçada, na determinação de seus passos lentos, e nada lhe respondeu.

Com a mesma sobriedade de quando saíra, Agenor retornou para casa e entrou sem nada falar para onde fora. Quando a mulher indagou de onde vinha, pediu que ela perguntasse a um amigo da igreja. Sua presença determinada na missa daquele sábado, na Igreja de Santa Filomena, foi o pontapé inicial de um engajamento de mais de 20 anos na comunidade, só interrompido após a mudança familiar para o bairro de Rosa Cruz.
Músico, honrando o Gonzaga que carrega no sobrenome, logo se integrou ao ministério de canto, tocando seus instrumentos e cantando, conforme a necessidade da celebração. Há quatro anos coordena o Terço dos Homens da Comunidade Santa Clara, do qual é o animador musical, acumulando ainda a coordenação paroquial do movimento da Paróquia São Francisco, do Cruzeiro.
Em maio do ano passado, quando me integrei ao Terço, fui recepcionado por Agenor com voz e violão. Fiquei encantado. Nos últimos meses, trocou o pinho pelo cavaquinho, quebrando um pouco esse encantamento melódico que o instrumento mais tocado me proporciona.
E a bebida, como ficou? Desde então, passou três anos sem tocar em bebida alcoólica; vez por outra, quando bebe, toma duas ou três doses. Nesse intervalo abstinente, observou o aumento de embriagados na praça ao lado da Igreja de Santa Filomena e teve compaixão. Chamou, então, os irmãos da comunidade e exortou-os a agir. “Recuperamos muitos”, relembra.
Foi o início de um trabalho comunitário que evoluiu com distribuição de alimentos e a reza do Terço na praça (mais tarde Terço dos Homens) e que ninguém sabia a que pastoral poderia pertencer. Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças na época, padre Aparecido procurou saber, confirmando a Pastoral Social. Foi o embrião da hoje Pastoral da Sobriedade.
( redação com A palavara online)



